Friday, April 27, 2007

Tratamentos do cancro da mama

Desde que o cancro foi identificado, os investigadores têm procurado tratamentos eficazes para esta doença. Nas últimas décadas, têm-se feito progressos importantes no tratamento do cancro, tendo-se reconhecido que esta não é uma única doença, mas sim um grupo de doenças, cada uma delas requerendo diferentes tipos de cuidados. Os avanços científicos e tecnológicos dos últimos anos têm proporcionado novos conhecimentos sobre o cancro, o que se traduz numa significativa melhoria no tratamento da doença.
O tratamento de cada caso deve ser adaptado à realidade de cada doente, individualmente.
O plano de tratamento é decidido e realizado por uma equipa de especialistas (multidisciplinar) trabalhando em colaboração uns com os outros. Geralmente os tratamentos do cancro seguem protocolos. Estes são um conjunto de normas e planos de tratamento que se estabelecem, baseando-se na experiência científica, para o tratamento de uma doença. Estes protocolos que, de forma geral, se aplicam em todos os hospitais, incluem indicações e limites de tratamento em função de uma série de factores relacionados com o tumor (tipo, localização e tamanho, afectação de outros órgãos ou de gânglios) e com o paciente (idade, estado de saúde, outras doenças, desejo do próprio paciente).
Assim, entre os tratamentos conhecidos temos:

Quimioterapia: Segundo a médica Dr. Mónica Nave , esta consiste no uso de medicamentos anti-cancerigenos, que podem ser ingeridos oralmente, por injecção intravenosa ou ainda por injecções intramusculares. Estes medicamentos entram na corrente sanguínea, circulando por todo o corpo, actuando de várias maneiras diferentes: alguns deles têm como objectivo interferir com a capacidade que a célula cancerosa tem de se reproduzir; outros interferem com processos químicos essenciais, dentro das células, acabando por eliminar as células cancerígenas que eventualmente se tenham espalhado pelo corpo (no caso do cancro da mama, pode acontecer que as células invadam também a zona axilar). Os compostos químicos que atacam com sucesso a divisão contínua das células malignas, no entanto, atacam também as células sãs e podem originar efeitos secundários indesejáveis, como a queda de cabelo.Normalmente administram-se vários ciclos de quimioterapia com intervalos de algumas semanas e portanto o período total de tratamento pode prolongar-se por vários meses.

Radioterapia: A radioterapia é a segunda forma mais comum de tratamento, embora para alguns tipos de cancro não seja um método de tratamento adequado. Cerca de metade de todos os doentes de cancro recebem uma forma de radioterapia, seja isoladamente ou em combinação com outras formas de terapia. Nos últimos anos, os aperfeiçoamentos das técnicas e processos de radioterapia e do equipamento resultaram numa utilização mais eficaz deste método como tratamento principal para alguns cancros. Alguns cancros são particularmente sensíveis ao rádio, sendo totalmente curados desta forma.
A radioterapia é uma forma de actuação terapêutica que utiliza radiação ionizante, como os raios X, raios gama ou partículas sub-atómicas, para lesar ou destruir as células dos tumores malignos. A radioterapia utiliza, pois, os mesmos tipos de radiação que são utilizados na realização de radiografias ou exames de medicina nuclear, residindo a diferença no facto de na radioterapia a energia das radiações utilizadas ser muito superior.
A radiação ionizante "ataca" as células cancerosas ao causar alterações no seu material genético, o que interfere com a sua capacidade para se multiplicarem e, consequentemente, com o crescimento do tumor. Durante o tratamento as células normais localizadas na vizinhança das células malignas são também atingidas, mas, geralmente, conseguem recuperar e sobreviver.Consoante a localização da fonte de radiação em relação ao corpo do paciente vamos ter uma das duas formas da radioterapia:

- Radioterapia interna, na qual a radiação tem origem a partir de uma fonte que é colocada no interior do organismo, seja numa cavidade natural - radioterapia intracavitária - seja implantada no interior do próprio tumor- braquiterapia ou radioterapia intersticial.


- Teleradioterapia ou radioterapia externa, na qual a fonte de radiação está a uma certa distância do paciente, geralmente num equipamento de grandes dimensões, como são a unidade de Cobalto e o acelerador linear. Neste tipo de tratamento, que é o mais comum, os pacientes são tratados em ambulatório, em sessões de curta duração que se repetem diariamente, podendo prolongar-se por várias por semanas, dependendo do problema em causa.
A radioterapia é frequentemente utilizada em conjugação com outras formas de tratamento do cancro. No cancro da mama, a radioterapia é muitas vezes usada depois da remoção cirúrgica dum cancro da mama maligno, para destruir algumas células remanescentes do tumor. A radioterapia também pode ser usada para reduzir o tamanho dum tumor, ou para destruir células do cancro da mama que se tenham deslocado para outras partes do corpo. A radioterapia, no entanto, só é usada quando os benefícios compensam largamente os riscos de causar danos no tecido são.
Em alguns casos pode ser utilizada antes da cirurgia, para reduzir o tamanho do tumor, tornando-a menos complicada. Noutros casos, pode prolongar a vida, ao controlar temporariamente o crescimento de um tumor. Neste contexto, a radioterapia é particularmente útil quando o cancro está confinado a uma região do corpo, mas demasiado avançado para ser totalmente tratado através de cirurgia. A radiação pode também ser usada para aliviar a dor, fazendo diminuir o tamanho do tumor que está a exercer pressão sobre um nervo, por exemplo.


Hoje em dia, existem novas técnicas envolvendo a radioterapia, como é o caso da radioterapia intra-operatória, na qual, como o próprio nome indica, o tumor ou o seu leito é irradiado durante a cirurgia, ou a radioimunoterapia, na qual se associa a radioterapia à imunoterapia, o que se faz conjugando as substâncias radioactivas com anticorpos produzidos pelo sistema imunitário do organismo (como iremos referir posteriormente). Estes anticorpos são específicos para as células malignas, pelo que o material radioactivo é levado directamente a estas células, diminuindo assim os efeitos da radiação sobre os tecidos normais.


Hormonoterapia: Em condições normais, as células da glândula mamária sofrem determinadas alterações, em função da acção das hormonas, sobretudo dos estrogénios: desenvolvimento na puberdade, aumento durante a gravidez, secreção de leite durante o período de lactação.
Alguns tumores com origem nestas células, podem conservar a capacidade de resposta às mudanças hormonais, deixando de crescer se as hormonas que estimulam o seu desenvolvimento forem suprimidas ou se forem administrados medicamentos que bloqueiem o referido factor de crescimento.
Por este motivo, a hormonoterapia tem como finalidade impedir que as células malignas continuem a receber a hormona que estimula o seu crescimento. O tratamento pode incluir o uso de medicamentos, que modificam a forma de actuar das hormonas, ou a cirurgia, que remove os ovários - órgãos responsáveis pela produção dessas hormonas.


Imumoterapia: Consiste no uso de substâncias que modificam a resposta do sistema imunitário do organismo, com o objectivo de destruir as células tumorais. No caso do cancro da mama, através do sistema imunitário e com recurso a diversos medicamentos, irão ser destruídas as células que estão a sofrer uma divisão anormal e portanto, a formar o tumor. A terapia hormonal e a imunoterapia são dois tipos de tratamentos usados em situações específicas e em que se preveja que estas podem beneficiar destes tratamentos.


Terapia com anticorpos monoclonais: As células tumorais "fabricam" substâncias que lhes permitem dividir-se continuamente ou invadir os tecidos sãos, provocando metástases. Uma dessas substâncias é a proteína HER2, que estimula o crescimento das células tumorais. Recentemente, foi desenvolvido um medicamento que actua nas células tumorais, que é um anticorpo monoclonal. Este medicamento actua nestas células que apresentam um excesso da proteína HER2, de modo a impedir que as células se multipliquem e ataca somente as células tumorais, sem qualquer efeito sobre as células sãs.
Um anticorpo monoclonal é uma proteína sintética que foi preparada expressamente para atingir células cancerosas específicas no organismo, bloqueando a função dum gene de cancro específico, associado ao crescimento de cancro da mama agressivo. A única terapêutica actualmente existente com anticorpos monoclonais atinge e bloqueia a função do gene HER2 do cancro.


O uso de um anticorpo monoclonal, representa uma nova e promissora opção para tratar doentes que após realizarem o teste revelam-se HER2 positivas (a maior parte das pessoas que tem cancro são HER2 positivo, a sua forma mais agressiva).
Como mostram os resultados clínicos, esta nova abordagem do cancro da mama é um grande avanço para as doentes HER2-positivas, proporcionando uma melhoria significativa na qualidade de vida e prolongando a vida das doentes com formas agressivas de cancro da mama.
Contudo, este tipo de tratamento está condicionado à existência de um diagnóstico fiável do status de HER2. O diagnóstico do status do HER2, é feito utilizando testes altamente sensíveis. Estes testes não só determinam se uma doente é ou não HER2-positiva, mas também constituem um prognóstico acerca das doentes que poderão responder a este tratamento.


Cirurgia: é o tratamento inicial mais comum e o principal tratamento local. O tumor da mama será removido, assim como os gânglios linfáticos da axila. Estes gânglios filtram a linfa que flui da mama para outras partes do corpo e é através deles que o cancro pode alastrar. Existem vários tipos de cirurgia para o cancro da mama, que são indicados de acordo com a fase evolutiva do tumor, a sua localização ou o tamanho da mama.


Tumorectomia: é a cirurgia que remove apenas o tumor. Em seguida, aplica-se a terapia por radiação. Às vezes, os gânglios linfáticos das axilas são retirados como medida preventiva. É aplicada em tumores mínimos.
Actualmente, em casos muito concretos, é estudada a possibilidade de evitar o esvaziamento axilar (ou seja, a excisão dos gânglios da axila), através da excisão de um só gânglio, especificamente seleccionado (gânglio sentinela), utilizado para controlar quais os tecidos afectados.



Mastectomia: pode ser radical (clássica), caso em que o cirurgião extrai a mama, os músculos do peito, todos os gânglios linfáticos da axila, alguma gordura em excesso e pele. Raramente é utilizada. No entanto, hoje em dia, a mais praticada é a designada mastectomia radical modificada, que permite conservar os músculos peitorais, para facilitar uma posterior reconstrução estética.


Mastectomia simples ou total: é a cirurgia que remove apenas a mama. Às vezes, no entanto, os gânglios linfáticos mais próximos também são removidos. É aplicada em casos de tumor difuso. Pode manter-se a pele da mama, que auxiliará muito a reconstrução plástica.




Quadrantectomia ou Lumpectomia: é a cirurgia que retira o tumor, uma parte do tecido normal que o envolve e o tecido que recobre o peito abaixo do tumor. É, pois, um tratamento que conserva a mama.A radioterapia é aplicada após a cirurgia.



Efeitos secundários

Tendo em conta que se trata de uma intervenção cirúrgica, não existem efeitos secundários imediatos, excepto os que possam surgir no local da incisão:

• Infecção local
• Hematoma (sangue acumulado)
• Seroma (líquido transparente acumulado)

• Esvaziamento axilar:
• Linfedema: inchaço, por acumulação de líquido no braço e na mão. Regra geral, não aparece imediatamente, podendo demorar alguns meses ou mesmo anos.

Precauções
• Retirar sangue no braço contrário à intervenção;
• Determinar a pressão arterial no braço contrário à intervenção;
• Proteger as mãos com luvas, sempre que realizar actividades que possam provocar qualquer tipo de ferida (jardinagem, bricolagem...)

No comments: